sábado, 13 de março de 2010

Indo 02

Uma característica nefasta de Maceió, hoje, são suas praças abandonadas, a população parece não viver mais a cidade. São tristes, sem trato, sem atrativos, sem segurança; lamentável evolução, que esquece os primórdios da essência animal do Homem, que debruçado num volante de automóvel, transformado em ser cibernético, expande rancores e desarmonia entre todos os seres; lamentável realidade, de um animal que reina sobre tudo na Terra, que manda e desmanda, que aniquila culturas, que constrói destruindo inconseqüentemente, cegamente, engolindo os engodos empurrados pelos ásperos suplícios subliminares da Mídia, conduzidos por leis que determinam a tendência do mercado, diante uma população, a ver navios, alienada, replicando o reflexo desse magma pútrido que lhes é enfiado pelos sete buracos da cabeça. Pobre humanidade, de uma burguesia fútil e uma miséria plena, heterogênea sociedade, de limites marcantes pelos semblantes expostos...

Caminhando pelas ruas do Centro, um exercício de cidadania, nos deparamos com uma desordem absoluta, ruas estreitas e excesso de automóveis, faltam árvores nas ruas, as calçadas estão sempre ocupadas com placas, automóveis ou pequenos comércios populares, quando não estão esburacadas ou com entulhos. - E quem vai ligar para isso ?!... – Os governantes e autoridades afins não passeiam pela cidade, a conhecem por um triz, não amam, não tocam, não sentem. A vida tá muito dura, o mundo tá muito quente e não há harmonia existencial. Pra quem assiste a esse desequilíbrio quântico sensorial, que intermedia essa relação desigual extremada, dos que mínguam a fome e sede e dos que mamam nas mais gordas tetas públicas, vislumbra esse caos realístico. E de quem é a culpa ? da desculpa ?...

Triste, sigo minha saga poética, sofro o que tem que sofrer, curto e que tenho que curtir, amo o que tenho que amar, sonho o que tenho que sonhar, vivo o que tenho que viver, me indigno com o que tenho que indignar, sopro o que tenho que soprar, bebo o que tenho que beber, fumo o que tenho que fumar, luto o que tenho que lutar, abraço o que tenho que abraçar, respiro o que tenho pra respirar, detesto o que tenho que detestar, enfim, nau aos ventos, relembro um verso de Edgar Allan Poe:

“Desde criança nunca fui como outros foram
Nem meus olhos nunca viram
o que outros viram.
Já que minhas paixões não têm
a mesma origem,
Não vêm da mesma fonte
as dores que me afligem”...
(E. A. Poe – Folhetim – 28/07/85)