domingo, 27 de setembro de 2009

Sobrevivendo





Sequência de fotos da companheira Cláudia Galvão (Alagoas 24 Horas)

Sinto-me obrigado a esclarecer sobre a agressão que sofri no dia 25, pela manhã, na porta do Fórum de Maceió. Eu, como Repórter Fotográfico, representando o O Jornal e vários outros companheiros de outras Mídias, esperávamos um grupo de pessoas que haviam sido presas em Olho D’Água das Flores, quando chegou um ônibus. Todos nós da Imprensa corremos para registrar a chegada, só que essa gente que acabara de descer do ônibus não eram os que esperávamos; eram detentos reeducandos que iam depor na 17ª vara. Mas até então nada sabíamos e começamos a filmar, fotografar e os repórteres a fazer as perguntas, as rádios entraram ao vivo, enquanto, em fila o grupo se dirigiu para o Fórum. Acocorei junto ao muro a fim de pegar uma perspectiva da fila, o agressor, de camisa escura listada na vertical, estava escondido por trás de outro detento, da camisa amarela, já com a intenção da agressão, quando de repente, percebi um vulto em minha direção, só tive tempo de inclinar meu corpo um pouco mais para baixo, antes de ser atingido por um forte chute, que vinha na direção da câmara que estava colada em meu rosto, a esquiva que dei foi o suficiente para não ser atingido de cheio. Nada tive, nem a câmara. Eles continuaram, em fila, a caminho pro Fórum, levantei-me e olhei se a câmara tinha sofrido algum dano, vi que não, então corri e ainda os alcancei, registrei o resto da passagem deles até a entrada no Fórum. O comandante da operação policial que os acompanhavam me procurou, disse que o Juiz havia ficado indignado com o acontecido, e confirmou que o detento iria à delegacia para prestar a Ocorrência da agressão, em pouco tempo os sites e as rádios que ali estavam já haviam divulgado o fato, recebi ligação do Editor do O Jornal, do Sindicato dos Jornalistas, do sub-secretário de Comunicação do Estado, vários familiares e amigos.

São coisas do Ofício, não sou o primeiro jornalista atingido por bandidos e é notório o quanto somos odiados pelos infratores. Todos que de algum modo estão envolvidos em algum tipo de crime, corrupção, agressão física, enfim, todos os bandidos detestam ter suas imagens divulgadas como tais. Temos a obrigação de registrar, nossa função social é essa: captar o flagrante. É claro que ninguém gosta de ser agredido, nem eu. Fica aquela angústia carcomendo nosso interior, sobra uma dúvida replicante, sobre essa função de Repórter Fotográfico (Cinematográfico): ninguém gosta de aparecer no jornal como ‘bandido’, mas o cara é um bandido, lamento pelos inocentes, mas muitos dos crimes desses bandidos vêm à tona quando suas imagens são divulgadas. Chego a sentir-me culpado, chego a achar que essa profissão é por demais mal visada. Pois somos os representantes da informação mais clara, mais verdadeira, mais plena de realidade, sem menosprezar os repórteres que compõem o texto (pois por mais precisa que seja uma descrição física de um personagem, nunca terá mais exatidão do perfil quanto na imagem), e isso nos transforma no terror dessa bandidagem. Quer sejam os ‘gabirus’ ou os ‘taturanas’, quer sejam bandidos pé-de-chinelo que praticam pequenos furtos, quer sejam gangs fortemente armadas que assaltam bancos e condomínios e seqüestram, enfim, pra nós não importa, pois temos a função de retratar, seja quem for.

Estamos sempre na linha de frente da batalha, somos os abre-alas dessa orquestra regida pela força de vontade, dessa força que flui da necessidade que a sociedade tem de saber dos fatos que ocorrem em seu cotidiano. Somos um batalhão em que se consiste a tarefa maior de olhar de frente o olho-do-furacão, de peito e cara abertos, representantes do valor histórico dos acontecimentos dessa evolução a que vivenciamos, encaramos os entraves com coragem e ação, aos trancos e barrancos, conduzindo câmaras que captam a realidade, como denominam a ‘Fotografia’ (escrever com a luz) o povo oriental: Sha-shin (reflexo da realidade).

Triste, um pouco deprimido, ergo-me e vou adiante, seguro de minhas expectativas, ciente dos entraves, pleno de amor pelo que faço, dar continuidade a saga existencial dos que compõem a gleba que mantêm acesa a chama da informação. Obrigado a todos que me apoiaram, me apóiam e estarão comigo, pro que der e vier.

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Não consigo não me indignar.

Acho que estou passando por uma crise diante toda realidade a que assisto no cotidiano, principalmente com os automóveis. Esses monstros são insuportáveis ! Essa máquina pulsa como um animal, de alguma maneira ela domina de tal modo seus condutores, que me assusto só em pensar em como tais condutores conseguirão viver sem ela. Chego mesmo, esmiuçando em proporções, a vislumbrar esse ser comparando-o a um cupinzinho, uma formiguinha que conseguiu criar para si a capinha protetora e uma dinâmica suspensa de deslocamento, que o ajuda e transportar-se por todo espaço possível. É lindo. Mas elas não deveriam ser tão cruéis, tão sem coração. E também não deveriam poluir tanto. Por ela as cidades tendem ao enclausuramento, por ela a condição bípede humana reduz-se pela metade. Essa máquina extremamente poluente é absolutamente necessária. Não sei em outros lugares, outras cidades, outros países, mas aqui em Maceió esse universo automotivo é absurdo. Existem pontos (lugares) e picos (tempo) que é melhor desviar a rota ou ficar enclausurado em casa, calçadas de intensa relação caminhante vrs automóvel (estacionando sobre a dita cuja), horas de rush com fechamento de sinal (carro avançado no sinal vermelho impedindo a evolução da outra mão), com idiotas businando em vão, maioria dos carros vazios, com 1 ou 2 pessoas, poluição até umas horas... 99% dos condutores cometem em algum momento uma ação contra o pedestre ou contra o próprio desenvolvimento do trânsito... Não adianta alguém querer bater no peito e dizer que não faz, porque faz também. Não há condutor, que as vezes até sem querer tanto, não estacione em uma calçada, deixe de parar numa faixa de pedestre, não avance um sinal, não buzinou insistentemente. Existem alguns “estacionamentos” completamente irregulares, principalmente quando se trata dos veículos mais longos (principalmente as camionetes), como na praça Centenário e todo aquele entorno do Farol. Para o condutor, que já não caminha pela cidade, é uma besteira, ele só vai fazer uma comprinha ali e já volta, o que é que tem, é rapidinho, mas não sabe ele que as vezes vêm por ali uma velha, crianças, gente, enfim, não tem que obstruir as calçadas, é um mínimo. Mas não, pelo contrário, são todos uns caras de pau. Fodam-se os outros ! Egocentrismo crônico, é disso que se trata essa relação.